segunda-feira, 22 de junho de 2009

Documentário em dialogo com o videoclipe

Felipe Ferreira Neves

Resumo

Este trabalho busca refletir sobre formas de dialogo entre o documentário e a linguagem de videoclipe usando o documentário Surplus como exemplo.

Introdução.

Surplus: Terrorized Into Being Consumers (2003) documentário dirigido por Erik Gandini para a Tv publica Sueca, foi ganhador do prêmio “Lobo Prateado” do prestigiado International Documentary Filmfestival - IDFA de 2003 em Amsterdã.
O júri justificou a premiação assim:

“Por sua originalidade, senso de humor, ironia, energia e virtusidade visual, o prêmio Silver Wolf vai para Surplus”

Gravado nos EUA, Cuba, Índia, Hungria, Itália e Suécia, em um período de três anos. Seu formato dialoga diretamente com a linguagem de videoclipe, com uso constante de música, edição rítmica, montagem descontínua, manipulação temporal e narrativa fragmentada.
O filme se inicia com imagens de protesto, com conflito entre jovens e a polícia, que acaba em morte. Manifestantes acusam a polícia de assassina. Durante a manifestação também escutamos em voz off um discurso do Fidel.
Na abertura, o filme apresenta a idéia de que temos que combater a sociedade de consumo. Esta idéia parece corriqueira dos filmes do cinema político e aparentemente pouco sedutora.
O que Surplus trás de diferente é a inserção de uma trilha sonora e trilha incidental que parece composta exatamente para aquelas imagens, dando a impressão que o discurso é, ou vira, uma letra daquela música.
Conforme Bill Nichols:

““No documentário, a persuasão da retórica pode ser feita através de provas materiais (como testemunhas, confissões, documentos objetos) extraídas da realidade para apoiar a argumentação e garantir sua base persuasiva. Recorre-se também a “provas artísticas”, ou seja, estratégias criadas pelo autor do filme cujo poder de convencimento, dependem da qualidade de construção do texto, da persuasão de sua representações e reivindicações de autenticidade”” (NICHOLS, 1997, p. 182)

Está “prova artística” porposta por Nichols, contida em Surplus, faz com que ele, dialogue com a linguagem do videoclipe.
A pesquisadora Ana Rosa Marques analisando a forma do mesmo documentário, afirma que no aspecto formal, é utilizada a linguagem do videoclipe, com imagens estilizadas e virtuosísticas, uso intenso de músicas, ênfase no sentimento e na emoção, centralidade no ritmo, montagem fragmentada e descontínua, manipulação e inversão temporal. Também justifica que a narrativa se torna seqüência musical em algum momentos evidenciando que a linguagem do vídeo clipe permeia o documentário.
Surplus, mas do que dialogar com a linguagem do videoclipe, cria uma nova plástica para os elementos ali disposto, uma poesia visual que nos permite “gostar” do filme mesmo não “gostando” ou não acreditando na argumentação proposta.
Este trabalho só analisa a composição estética de linguagem do documentário Surplus, não entrando em outros aspectos, como a voz do documentário ou o comparando com outros formatos de documentário políticos.


Referência Bibliográficas


Marques, Ana Rosa. A questão da forma no documentário político. Trabalho apresentado no VII Encontro dos Núcleos de Pesquisa em Comunicação – NP Comunicação Audiovisual

Corrêa, Laura Josani Andrade. Videoclipe: potencialidade da experimentação
de linguagens no campo do audiovisual. Trabalho apresentado no GT de Audiovisual (Inovcom) do IX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação na
Região Centro- Oeste (Intercom Centro-Oeste), realizado de 5 a 7 de junho de 2008 pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e Unigran, em Dourados, MS, Brasil.

Surplus






terça-feira, 16 de junho de 2009


Como uma forma de exercício, fiz uma pesquisa na Biblioteca do SENAC Lapa Scipião em monografias de conclusão de curso de pos graduação do CISME (Criação de Imagem e Som em Meios Digitais).
Três monografias me chamaram a atenção:

“Videodocumentário – representações poéticas em imagens e som” de Ananda Carvalho com orientação de Renata Gómez – Senac SP 2005.

"O Documentário na Era Digital" de Humberto Lima com orientação de Nancy Betts – Senac SP 2006.

"A Difusão do Curta-Metragem na Era Digital" de Maria Fernanda Pires Marques com orientação de Edmílson Felipe da Silva – Senac SP 2007.

A primeira monografia “Videodocumentário” de Ananda reflete sobre o vídeo como arte, apresentado pelo documentário contemporâneo Brasileiro.
Em “O Documentário na era Digiral” Humberto reflete sobre o implacto dos novos meios tecnológicos digitais na produção do documentário brasileiro. Sobre tudo a partir de meados da década de 90 com a introdução das câmeras digitais MINI DV e das Ilhas não Lineares. Constatando que a tecnologia disponível em cada época influencia o processo criativo da linguagem documental.
Já em “A difusão do Curta-metragemna era Digital” Maria Fernanda discute o formato curta-metragem (som e imagens em movimentos de curta duração) e como eles se beneficiam das caracteristicas das novas mídias que ampliam as possibilidades para a disseminação de trabalhos áudio visuais

Mais informações Biblioteca Senac:

http://www.sp.senac.br/jsp/default.jsp?newsID=a373.htm&testeira=722&unit=CAS,CAJ,CAP&sub=0


ps:em campo “procurar onde” coloque em: Senac Lapa Scipião

domingo, 14 de junho de 2009

Um homem com uma câmera

Sinopse

Grande marco do cinema soviético do período Lenin. UM HOMEM COM UMA CÂMERA é o mais puro exemplo da ruptura total do cinema com a literatura e a dramaturgia, uma autêntica iniciação aos segredos da linguagem cinematográfica. Dziga Vertov, o artista preferido do governo soviético, criou o Kino-Pravda (Cine-Verdade) e o Kino-Glaz (Cine-Olho), novos conceitos para captação da realidade, formatada dentro de uma montagem visionária que influenciaria o cinema do Pós-Guerra. As imagens são deslumbrantes e de grande impacto visual. Sem dúvida um dos filmes mais importantes de todos os tempos. A trilha sonora é composta e conduzida pela Alloy Orchestra, seguindo as instruções escritas por Dziga Vertov. Cópia remasterizada do negativo de 35 mm.

Ficha Técnica

» Direção: Dziga Vertov
» Gênero: Documentário
» Origem: União Soviética
» Duração: 80 minutos
» Tipo: Longa
» Ano: 1929



quarta-feira, 10 de junho de 2009

Origem do termo "documentário"

O termo documentário foi empregado pela primeira vez referindo-se à um longa pelo escocês John Grieson, em um artigo para o jornal New York Sun, em 1926, em que ele comentava o filme Moana, de Robert Flaherty. “Documentário” é uma alusão ao termo francês Documentaire, com o qual eram designados os filmes de viagem. Sobre Moana, Grieson escreveu: “Sendo um relato visual da vida cotidiana dos jovens polinésios, tem um caráter documental”. Entretanto, só no final da década de 20 os documentários são finalmente definidos como um gênero fílmico. Robert Flaherty, Jonh Grierson, Dziga Vertov, dentre outros, são considerados precursores do cinema documental. Nesse período, alguns filmes utilizavam recursos da linguagem ficcional como as locações, caso do documentário Nannok of the North (1922), do próprio Robert Flaherty, registro da expedição do diretor ao Alaska, em 1913.

Nanook of the North, Robert Flaherty, 1921

O filme foi uma revelação na época de seu lançamento, apesar da incredulidade dos primeiros distribuidores. Criava um novo campo de criação situado entre os filmes de viagem e as ficções. Articulava-se em torno da vida de uma comunidade; o cineasta (narrador) era “eliminado”, tal como o narrador da ficção cinematográfica. Incorporou conquistas relativamente recentes da montagem narrativa da época, resultada da manipulação de espaço-tempo. A figura de campo / contra campo presente em diversos momentos do filme, por vezes se combina com um plano que reproduz o ponto de vista do personagem. Recurso de subjetividade que vinha sendo utilizado nas ficções. Dava uma perspectiva dramática dos fatos que acompanhou no local, como o próprio Flaherty dizia. Extrair do próprio ambiente os elementos fundamentais do drama – esta é a base de um método de trabalho, em todos os seus filmes. Nunca escalou atores profissionais, convocava os próprios membros da comunidade para encenarem diante da câmera os seus gestos cotidianos. Micro narrativas eram inseridas em seqüência mais longas, proporcionando detalhes que humanizam o relato. A mesma ambivalência pode ser notada na insistência de Flaherty em encenar situações tradicionais que já não faziam parte da vida da comunidade, mas que serviam ao seu propósito de representação. (Os esquimós já quase não caçavam morsas, muito menos com arpão). O importante é a contribuição original de Flaherty no sentido de criar um método de pesquisa, filmagem e montagem que inaugura uma “narratividade documentária” e o fato de que este método não seria possível sem a “sintaxe narrativa” do modo de representação. Mas para que a tradição do documentário se estabelecesse propriamente, ainda seria preciso esperar mais uma década, até que surgisse uma retórica capaz de dar ressonância ao estilo.

referência: Da-Rin, Silvio – Espelho Partido (Tradição e transformação do documentário) Rio de Janeiro: Azougue Editorial 2004

Nanook no IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0013427/
Silvio Da-Rin
SILVIO DA-RIN é secretário do Audiovisual, documentarista, escritor e técnico de som cinematográfico. Realizou mais de uma dezena de filmes e vídeos, vários deles premiados em festivais brasileiros e internacionais. Durante a ditadura, Silvio foi militante da Ação Popular, do Comando de Libertação Nacional (Colina) e da VAR-Palmares.

Recomendo: Filme

Hércules 56
O seqüestro do embaixador americano em 1969


sábado, 6 de junho de 2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dispositivo de filmagem

Para entender um pouco mais o que é o dispositivo de filmagem, acho interessante ler este texto: "O dispositivo como estratégia narrativa" de Cezar Migliorin disponibilizado na Revista Academica de Cinema Digitagrama


http://www.estacio.br/graduacao/cinema/digitagrama/numero3/cmigliorin.asp
Aviso

Para quem ainda não assistiu ao filme "Jogo de Cena" de Eduardo Coutinho, aviso que ler o texto abaixo "O jogo de elementos criativos" pode tirar aquele "gosto" de ver o filme pela primeira.

Uma opção para ver este filme e outros do Eduardo Coutinho é tentar baixar os filme em:

http://eduardocoutinho.blogspot.com/

ps: a maioria dos arquivos estão em formato torrent.

O jogo de elementos criativos

parte 1

Resumo

Este trabalho busca estabelecer uma relação entre o conceito de estranhamento de Chklovski e o dispositivo de filmagem presente no documentário contemporâneo. A pesquisa analisa alguns aspectos do filme Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, na tentativa de exemplificar tais relações.


Introdução

A ideia de dispositivo de filmagem ou de filme dispositivo está cada vez mais presente nas reflexões teóricas, principalmente no documentário contemporâneo. Na obra de Eduardo Coutinho esses dispositivos, responsáveis por produzir acontecimentos ou imagens, são facilmente identificados.
O dispositivo, em modos práticos, seria a organização dos elementos da prática audiovisual de uma forma a criar um mecanismo criativo. Este mecanismo ou dispositivo dispara um movimento que não existia ou não estava presente, fazendo com que sejam produzidos acontecimentos nem sempre dominados pelo diretor, que entra em uma espécie de experiência não roterizada.
Para Cezar Migliorin no texto O DISPOSITIVO COMO ESTRATÉGIA CRIATIVA, "A criação dos dispositivos se propõe a filmar o que ainda não existe e só existirá quando o dispositivo entra em ação. O dispositivo é uma ativação do real" e "o dispositivo permite que a produção do artista/diretor, transite entre um extremo domínio - e uma larga falta de controle - dos efeitos e eventuais acontecimentos".
Este processo artístico se assemelha com o conceito de estranhamento elaborado por Victor Chklovki. O construtivista russo define a função da obra de arte como o modo de desenvolver procedimentos criativos que nos levam a ver a realidade de outro modo. A teoria do estranhamento, que se apoia na ação de estranhar o objeto representado, procura transpor o universo para uma esfera de novas percepções que se opõe ao peso da rotina, do hábito, do já visto. Extraindo o objeto do seu contexto habitual e revelando-lhe uma faceta insólita, o artista destrói os clichês e as associações estereotipadas, impondo uma complexa perceção sensorial do universo. (FERRARA, L D'Allessio. A Estratégia dos Signos p.33)
Antes da preocupação com o receptor, o conceito de estranhamento está preocupado com a natureza do ato criativo, capaz de inibir percepções automáticas e construir através da linguagem circunstâncias singulares de percepção. A proposta deste conceito é a desautomatização da percepção para criar uma especifico artístico.

Jogo de cena

Após os créditos iniciais, o filme começa com um anuncio de jornal convidando mulheres maiores de 18 anos moradoras do Rio de Janeiro a contar suas histórias em um teste para um filme de documentário e 2 telefones para contato. Corte para cena de uma mulher de costas subindo as escadas que dão em um palco de teatro, com equipamento de filmagem e iluminação, o plano sequência mostra também a plateia de cadeiras vermelhas iluminada e vazia até encontrar o diretor do filme, Eduardo Coutinho, sentado no palco ao lado de uma câmera. A personagem o cumprimenta com um boa tarde e ele a convida para sentar em uma cadeira preta a sua frente, outro corte e ela começa a dar seu depoimento.
A estrutura do filme é basicamente o depoimento de 23 mulheres neste mesmo local, com algumas intervenções e perguntas de Eduardo Coutinho.
De uma forma geral, os depoimentos das mulheres, são organizados em pares, uma sendo o contra ponto da outra. Três atrizes brasileiras famosas fazem o contra ponto de outras três mulheres, representando suas historias e comentado sobre sua interpretação.
Atrizes praticamente desconhecidas também interpretam a historia de outras mulheres, sem prévio aviso que são atrizes, e diferente das atrizes famosas, não comenta sua interpretação, nos deixando com certas dúvidas da origem da história - mas qual destas duas mulheres é realmente a atriz?
Esta dúvida coloca o espectador em um estado de alerta, que constantemente tenta identificar a veracidade ou não do discurso, tirando o receptor de uma área de conforto e desautomatizando sua percepção, como propõe o conceito de estranhamento de Chklovski.
Este estranhamento só é possível pela operação que o dispositivo cria no filme, impedindo a percepção automática de pressupormos que o personagem que está dando o depoimento em um filme de documentário é a pessoa que viveu tal história.
Com o fim do filme fica com o espectador a tarefa de identificar de quais personagens são algumas das histórias representada, se assim o desejar, mas isto não implica no entendimento da obrar.
parte 2

Considerações Finais

A analise proposta nesta pesquisa abrange apenas alguns aspectos do filme Jogo de Cena de Eduardo Coutinho, para exemplificar as relações nele encontradas entre o conceito de estranhamento de Chklovski e o dispositivo de filmagem, não encerrando outras questões proposta pelo filme como os limites de ficção e documentário, não mencionados neste trabalho.
O filme Jogo de cena é um documentário, que pode ser considerado um filme-dispositivo, porque ele não existiria sem o mesmo. É praticamente impossível separar o dispositivo da construção do filme. A "realidade" ali filmada não existia ou não estava pronta para ser filmada sem a intervenção do dispositivo.
Assim como propõe Chklóvski em sua teoria do estranhamento, em que o modo de desenvolver procedimentos nos quais a singularidade do processo criativo leve o receptor a ver a realidade de outro modo, acredito que o dispositivo de filmagem tem esta mesma função no documentário contemporâneo.



Referência Bibliográficas


BERNADET, Jean Claude. Cineasta e imagens do povo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

BETTS, Nancy. Estratégias enunciativas na arte e na média. Setembro 2008.Trabalho apresentado na NP Comunicação Audiovisual do VIII Nupecom - Encontro dos Núcleos de Pesquisas em Comunicação. Intercom

FERRARA, L. D'Allessio. A Estratêgia dos Signos: Linguagem/Espaço÷ambiente urbano. São Paulo: Editora Perspectiva, 1981.

MIGLIORIN, Cezar. O DISPOSITIVO COMO ESTRATÉGIA NARRATIVA Disponivel em: http://www.estacio.br/graduaçao/cinema/digitagrama/numero3/cmigliorin.asp

VANOYE, Francis e Goliot-Lété, Anne Ensaio sobre a análise Fílmica. Campinas, SP Papirus,1994


Ficha Técnica

Título Original: Jogo de Cena Gênero: Documentário
Duração: 105 min. Lançamento (Brasil): 2007
Distribuição: Videofilmes Direção: Eduardo Coutinho
Produção: Raquel Freire Zangrandi e Bia Almeida Co-produção: Videofilmes e Matizar
Fotografia: Jacques Cheuiche Edição: Jordana Berg

Elenco

Marília Pêra
Andréa Beltrão
Fernanda Torres
Aleta Gomes Vieira
Claudiléa Cerqueira de Lemos
Débora Almeida
Gisele Alves Moura
Jeckie Brown
Lana Guelero
Maria de Fátima Barbosa
Marina D'Elia
Mary Sheyla
Sarita Houli Brumer

Objetivo

Este blog tem como objetivo, juntar material de texto e video para servir como uma espécie de guia para projeto de estudo do documentário.